Para alguns analistas, comportamento foi "irracional"; outros, dizem que o mercado reagiu naturalmente às incertezas
A notícia de uma nova variante da Covid-19 derreteu Bolsas e commodities em todo o mundo. A nova cepa foi colocada em nível de “preocupação” pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas ainda não se sabe se a mutação do vírus, batizada de Omicron, é de fato resistente às vacinas ou qual seu nível de letalidade.
O que se sabe é que o mercado não espera confirmações para reagir, mas será que o comportamento das Bolsas e commodities foi exagerado? Alguns analistas acreditam que sim. Para Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, o mercado entrou em um movimento irracional de manada.
“A gente ainda não sabe quais são os problemas dessa variante e pode ser que a vacina funcione, e nada muda. Nesse primeiro momento, como você tem falta de informações, o mercado tende a ser um pouco irracional e a derreter preços de alguns ativos que não deveriam derreter tanto assim”, afirma Franchini.
Irracional também foi o termo utilizado pelo JP Morgan em relatório distribuído aos seus clientes para classificar a reação dos mercados hoje. Os analistas do banco acreditam que a prontidão de resposta à Covid-19 está em um patamar bem diferente do de um ano atrás, e que não é possível ignorar os avanços de esforços globais para controle da pandemia, como vacinação ampla e a descoberta de antivirais orais.
Em relatório divulgado mais cedo, analistas do Itaú BBA disseram que a reação do mercado à nova variante da Covid provavelmente foi “exacerbada” por liquidez baixa na sessão de hoje.
“Acreditamos que ainda é muito cedo para assumir que uma nova variante vá causar um grande impacto na economia global”, afirmaram. Para eles, a nova cepa descoberta na África do Sul não deve mudar os planos do Banco Central dos EUA (Federal Reserve) de acelerar a redução de estímulos em dezembro. Porém, o BBA que a perspectiva de um tapering ainda mais acelerado entrou em modo de espera por enquanto.
Reação natural
Para outros analistas, contudo, a reação de hoje dos mercados foi natural. “Já havia um movimento de lockdowns na Europa, que certamente aumentou o receio do mercado com relação a um potencial de novas restrições, esfriamento da economia e até uma recessão. Essa é a tese que o mercado está comprando”, afirmou Luiz Fernando Araújo, CEO da Finacap.
Juan Espinhel, especialista em investimentos da consultoria Ivest, diz que o mundo já vinha avesso ao tema da pandemia e como a economia global ainda está sensível, qualquer possibilidade de movimento de lockdown poderia gerar um movimento como o visto hoje.
“Ainda não nos recuperamos das primeiras ondas pandemia em termos econômicos. Estávamos começando agora a tirar alguns estímulos nos Estados Unidos, na Europa, com os Bancos Centrais no mundo inteiro tentando acertar as contas. O temor do mercado vem disso”, explica Espinhel. Para ele não foi um movimento irracional, mas sim de incerteza.
Exagerado ou não, o comportamento do mercado deve responder às próximas informações a respeito da nova variante e como os países vão se comportar. Por enquanto, a impressão que se tem, com diversos países restringindo voos da África e de nações onde casos da Omicron foram confirmados, é que pode haver retrocessos na retomada pós-pandêmica que se desenhava.